quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

EX-GARI ELEITO PREFEITO VAI PARA O TRABALHO DE BICICLETA



 Prefeito eleito de Santo Afonso limpava as ruas da cidade quando era secretário de obras


Ex-secretário, ex-vereador, ex-gari e ex-coveiro, Joabe Almeida (PSDB) assumiu a prefeitura de Santo Afonso (232 km de Cuiabá) com a missão de atrair empresa esmagadora de soja para o município que possui pouco mais de 3 mil habitantes, segundo a estimativa do IBGE de 2016. Joabe foi eleito com 1.088 votos e afirma que para conquistar a vitória enfrentou forte “ciúme político” do ex-prefeito Gordo Salim (PR), cuja candidatura foi indeferida e não teve os votos contabilizados.

Em entrevista ao , Joabe narra que foi eleito vereador em 2000 e reeleito em 2004, passando do menos para o mais votado. Em 2008, chegou a ensaiar uma disputa pela prefeitura, mas recuou da campanha por entender que não teria condições de se eleger. No ano de 2013, o então prefeito Salim lhe repassou o comando da secretaria de Obras. “Com seis meses na pasta percebemos ciúmes político dele sobre mim. Os puxa-sacos dele também tinha ciúmes da minha popularidade, meu jeito de ser. Ele, para não me mandar embora, me diminuiu de cargo, me pôs para catar lixo na rua”, conta.

Ainda assim, Joabe afirma que o ciúmes ainda continuou e, por isso, foi escalado para cuidar do cemitério. “Nunca morreu tanta gente como naquele período. Foram 34 pessoas. O município é pequeno, todo mundo conhece todo mundo, foi aí que comecei a conquistar o povo”, comenta. O tucano também atribui sua exoneração, em setembro de 2015, à alta popularidade, que teria “irritado” Salim.

Joabe diz ter dedicado esse período desempregado à pré-campanha. Detalha que precisou receber ajuda de amigos e familiares para se sustentar. Casado e com dois filhos, dependiam da renda de R$ 1,1 mil da esposa. “Quando eu menos esperava chegava alguém com pedaço de carne, verdura, pagava uma conta de luz, trazia um sapato ou uma roupa”, revela.

Tenho certeza absoluta que o
Brasil está em crise, mas Santo
Afonso não vai passar por crise

Presidente do PSDB em Santo Afonso desde 2005, Joabe ficou conhecido nos últimos dias por ter ido à cerimônia de posse montado em uma bicicleta, a mesma que ele diz ter usado durante a campanha e que pretende deixar em seu gabinete durante a gestão. O tucano que chegou a receber R$ 700 pelo cargo de vereador, como prefeito terá salário de R$ 12 mil.




Prefeito Joabe com o governador Pedro Taques durante a campanha

O prefeito eleito chegou a cursar dois anos do curso de Sociologia, à distância, e afirma que pretende concluí-lo. “Me sinto feliz com essa vitória, honrado. Meu pai é homem honesto. Trabalho desde os 11 anos. Sempre trabalhei no garimpo”.

Entre os setores do município que considera como prioridades estão a educação e saúde. “Só que não necessita só disso, mas também saneamento básico, infraestrutura. Quero trabalhar incansavelmente para atrair pequenas, médias e grandes empresas. A meta é atrair uma esmagadora de soja”, conjectura.

Joabe fala que, para o primeiro ano, o orçamento de R$ 15 milhões mais a suplementação de 30% (R$ 4,5 milhão) aprovada pela Câmara, será suficiente. “Tenho certeza absoluta que o Brasil está em crise, mas Santo Afonso não vai passar por crise”, assegura. Depois de eleito, o tucano ressalta que conversou com Salim e que “quebrou a tensão”.

Outro lado

O  ligou para o ex-prefeito Salim, porém as chamadas não foram atendidas. Em contato com o ex-vice-prefeito, Gezy Mario Bispo Ramos, o Ziquinha (PSB), ele refutou todas as declarações de Joabe e nega qualquer perseguição política por parte de Salim. “Conheço Joabe desde quando nasceu, a mãe dele é uma excelente professora, mas ele está contando histórias que estão envergonhando a cidade”, dispara.

Ele ia limpar, recebia como
secretário R$ 2,5 mil. Era um
gari de luxo (ex-vice-prefeito)

Ao contrário do que disse o atual prefeito, Ziquinha conta que o tucano saiu da secretaria de Obras após seis meses, pois “começou a extrapolar”. Afirma ainda que Joabe trabalhou como gari e coveiro do município por conta própria. “Ele nunca teve portaria de coveiro e nem gari, mas foi cuidar da cidade. Ele ia limpar, recebia como secretário R$ 2,5 mil. Era um gari de luxo. Ia de motorista, ia varrer, pegava caminhão pipa e lavava asfalto. Se morria alguém corria no cemitério cavar buraco“, esclarece.

Nesta linha, o ex-vice-prefeito enfatiza que não ocorreu perseguição política e classifica o novo gestor como “falso moralista”. “Isso aí não é humilde. Torcemos por uma boa gestão, mas ele aumentou a folha de pagamento em R$ 120 mil. Na crise que estamos, os prefeitos falando em cortar gastos, não sei se vai conseguir pagar depois de maio”.

Quanto à meta de atrair uma esmagadora de soja, Ziquinha cita cidades com maior potencial no setor, como Diamantino e Campo Novo do Parecis, que não conseguiram o feito. “Demagogia, utopia, isso não cabe na política, o povo é sabedor das coisas. Santo Afonso não planta nem 20 mil hectare de soja. Tem que investir na pequena agricultura”, conclui


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